terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Como não chorar?

Seria uma hipocrisia sem fim se eu dissesse que nunca me apaixonei antes.
Já tive paixões súbitas e demoradas, rasas e passageiras. Mas nada se compara ao que se apoderou do meu corpo hoje. Se eu fosse ao passado e dissesse a mim mesma que isso aconteceria, provavelmente eu colocaria as mãos nos ombros do meu outro eu, e avisaria calmamente que estava louco. Amar é uma emoção tão profunda que não há  requisitos prévios para sentí-lo. Não precisa de graduação acadêmica ou financeira para alcancá-lo. Não precisa de treinamento ou prática. Nasce conosco, morre conosco - excluem-se dessas descrições aqueles que possuem problemas psicológicos, psicopatas, etc.
O amor é tão difícil de mensurar ou esquadrinhar, que tudo que se sabe sobre ele são dados científicos sobre reações físicas e químicas no corpo. Quase nada se sabe sobre o espetáculo da emoção. Só os poetas da vida tentam traduzir com palavras aquilo que só se pode sentir.

O amor é um para cada pessoa, mas especialmente pra mim o amor é dor. Ele é aquele aperto na minha garganta quando estou andando distraída no horário de almoço pelo Centro da cidade e avisto a marquise do Itaú, onde outrora alguém me esperou, de blusa verde, para almoçar. Vem a lembrança de ter encerrado o almoço irritada por esse alguém ter tentado tirar uma foto minha no celular, brincando, pois eu estava horrenda e sem lavar o cabelo e não queria uma câmera perto de mim, nem pensar. O amor é aquele pesar quando se está atravessando a mesma avenida, no mesmo sinal, na mesma faixa de pedestres, só que sozinha. É notar aquele vazio repentino quando se olha pra marquise e não há ninguém de verde por perto. É sentir o coração estilhaçar em pedaços de gelo ao perceber que só você sente isso. Você está só no mundo com esse sentimento, porque ele não é compartilhado por mais ninguém.

É nesse momento, nesse pequeno espaço no vazio, que o amor vira dor. Daquelas que não passam, só amenizam por horas ou minutos, dependendo do que você usa como paliativo. Sair com os amigos garante algumas horas de alívio. Um jogo novo, uma novela, um livro, uma nova música. Algumas coisas distraem. Mas a dor está presente. Ela aparece quando  você menos espera e, com seu peso, te arrasta pro chão.

Eu quero esquecer, apagar da memória aquele cheiro, eliminar os vestígios, me poupar dos arrependimentos. Esquecer o toque, aquele carinho, o abraço de dormir, os beijos na pálpebra, o encaixe da mão nos seios. Essas coisas são difíceis de apagar, mas é um exercício diário. Eu preciso ser forte e me ocupar de milhões de distrações. Tudo porque dei pérolas aos porcos, porque depositei meu amor mais puro e genuíno num balde furado. Dei amor a quem não soube apreciar, segurar, devolver, compartilhar. Dei valor a quem não soube dar. O que se espera mais de mim? Sofrimento eterno? Como não chorar escrevendo isso?

Só se eu não tivesse mesmo coração - e no caso, como eu queria não ter!

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